Longe de ser um retrato fiel da época em que se passa, o filme se mantém coeso pelo tom de nostalgia e encantamento que encontra eco no espírito do protagonista – e também nós compartilhamos da sensação de assombro de estar diante de nossos ídolos. O sexo quase livre, os abusos de substâncias lícitas e ilícitas, a constante degradação que se tornou clichê de filmes de rock, tudo está em Quase Famosos, mas coberto por uma neblina de ingenuidade que deixa o espectador com um constante sorriso no rosto, achando tudo lindo.
A trilha sonora, como era de se esperar, é recheada de clássicos da época. Sem contar as músicas do Stillwater – a ascensão da banda, aliás, é tão convincente que acabamos duvidando que ela seja ficcional. As canções do Stillwater foram compostas por Peter Frampton – que faz uma ponta no filme, em uma cena em que a banda joga pôquer - em parceria com o diretor e sua esposa. Mas a que mais se destaca é Tiny Dancer, do Elton John, cantada pelos personagens no ônibus após uma briga homérica entre os integrantes do Stillwater, que leva Russel a se atirar de um telhado em uma piscina, louco de ácido. Uma a uma, as pessoas do grupo vão embarcando na canção, deixando de lado suas diferenças, enquanto William diz a Penny que precisa voltar para casa. “Você está em casa”, responde ela, revelando aquilo de que a música é capaz: unir, acolher, abrigar. Sim, era preciso ser um apaixonado pelo rock’n roll para filmar uma cena como essa – do contrário, o filme seria apenas mais um produto da indústria do cool.

Contra-Capa