O resultado é uma narração sincera, divertida e de tom nostálgico, cujo foco é a vida, não a obra do artista. Não é o relato de uma divindade – na década de 60, havia numa estação de metrô londrina a pixação “Clapton é Deus” – mas a confissão de um homem que busca fazer as pazes com seu passado. A sensação é semelhante à que ocorreria se o sujeito de olhar meio triste da capa passasse o braço sobre seu ombro e perguntasse: “Já contei sobre o dia em que conheci Mick Jagger?” Quem não gostaria de ouvir suas histórias de vida? Há um sentimento de cumplicidade, como se tudo aquilo fosse confiado apenas a você, e não a milhões de leitores.

Eric Clapton se descreve como um cara desajeitado e tímido, mas revela muito – de sua iniciação sexual à luta contra o alcoolismo, passando por uma generosa porção de anedotas envolvendo ícones da música. Vale a pena conhecer o Clapton personagem; mesmo que você odeie o Clapton guitarrista. Garanto que ele é mais legal que a Bruna Surfistinha.

 

02 de fevereiro de 1997 é uma data triste para a música brasileira. Foi o dia em que morreu Chico Science, aos 30 anos, vítima de um acidente de carro na rodovia entre Olinda e Recife. Francisco de Assis França cresceu na periferia de Olinda ouvindo black music e fez parte da Legião Hip Hop, grupo de dança de rua do Recife. Suas primeiras bandas foram Orla Orbe e Loustal, cujo som tinha influências de hip hop, funk e soul. Em 1991, conheceu os percussionistas do bloco afro Lamento Negro. O bloco desenvolvia trabalhos educacionais numa comunidade carente de Olinda. Junto aos companheiros do Loustal, formou o grupo Chico Science e Lamento Negro – depois Nação Zumbi – que misturava à bagagem de black music o rock e os ritmos regionais como maracatu, coco e embolada. Nascia o manguebeat, movimento expresso no manifesto Caranguejos com Cérebro, assinado por Chico e Fred 04, do Mundo Livre S/A, entre outros.

Contra-Capa